Desisti da graduação de Arquitetura e Urbanismo após uma conversa com a coordenadora do curso, em 2005. Lembro que o mundo estava vivendo guerras e grandes desafios e não se tocava no assunto na faculdade. Fui perguntar à coordenadora se iríamos contextualizar nossos trabalhos e projetos e lembro que sua resposta foi: “Não, querida, você só vai entrar em contato com isso nos últimos períodos, talvez quando estudar urbanismo.” Perguntei ainda sobre a questão da Sustentabilidade, que já era a minha área de interesse desde então, e lembro bem de sua resposta: “Sustentabilidade: essa palavra é moda. E moda passa.” Lembro de derramar algumas lágrimas antes de arrumar minhas coisas e sair da sala no meio da aula. Não consegui voltar.
Mudei de rumo e me formei em Ciências Biológicas Ambientais, onde era prioritária a contextualização socio-ambiental do Brasil e do Planeta. Tivemos a sorte de ter professores maravilhosos que abriram os nossos olhos e tocaram nossos corações, mas também encontramos nos próprios estudantes a vontade de encontrar soluções para os desafios que estávamos estudando.
Assim, os estudantes organizavam práticas de Sustentabilidade transformando o próprio espaço da Universidade. Buscamos juntos e encontramos a Bioconstrução*, a Permacultura* e a Agroecologia*, e em 2010, nós estudantes fundamos o Jardim Didático Agroflorestal ou Sistema Agroflorestal* (SAF) do CCB / UFPE. Na biologia, reencontrei a Arquitetura e o Paisagismo sob uma nova perspectiva. E isso fortaleceu em mim a idéia do quanto estas ferramentas sÃo importantes para construirmos um mundo que faça mais sentido. * Abordarei estes temas a seguir neste blog.
Por esta razão, em busca das ferramentas do design e planejamento, fui estudar um Curso Técnico em Design de Construção na Austrália, país conhecido por boas práticas sustentáveis e berço da Permacultura – um sistema de design e planejamento para a Sustentabilidade. Pude conhecer a riqueza da legislação australiana acerca de tecnologias sustentáveis, porém no curso e no mercado de trabalho percebi que a Austrália também caminha a passos tímidos na direção da Arquitetura e Paisagismo Sustentáveis. Tanto os professores e estudantes quanto os profissionais da área prezam pelo design convencional – mais “fácil”. Senti falta da criatividade brasileira, porém reconheci a eficácia do controle e segurança australianos.
Fora do curso, conheci na Australia belas iniciativas sustentáveis, que renovaram a esperança e servem como boas referências em consciência ecológica. Ainda assim, a impressão que fiquei é a de que o Brasil e América Latina têm uma força maior na prática destes temas e um maior número de exemplos espalhados e concretos, com forte viés social implícito pela necessidade local.
Voltando ao Recife, tive a felicidade de assistir a uma apresentação de Monografia do Curso de Arquitetura e Urbanismo na UFPE sobre a Bioconstrução e ver o reflexo nos professores da bancada de avaliação: alguns ficaram inspirados e motivados e outros inquietos e resistentes, porém todos pareceram determinados a olhar e adentrar o assunto. Com alegria, senti que, 12 anos depois de minha desistência do curso, algo parece estar acontecendo.
Ao mesmo tempo, é triste perceber que a maioria dos escritórios de arquitetura e engenharia ainda se encontram distantes do tema da Sustentabilidade e não abordam estas questões em seus projetos e dia-a-dia. Um grande exemplo é a carência do uso de tecnologias voltadas à questão da água, ainda que estejamos claramente à beira de uma crise global neste assunto.
Venho concluindo que a junção dos conhecimento da Biologia com a Arquitetura e o Paisagismo seria imensamente proveitosa, para ambos os profissionais, os clientes, a humanidade e a natureza.
Deixo aqui um apelo para que os arquitetos e paisagistas usem bem as suas ferramentas de trabalho para o necessário trabalho de mudança do qual a sociedade tanto necessita. Também, que procurem conhecer os novos temas e tecnologias da Sustentabilidade e analisem a possibilidade de integrar profissionais da área ambiental como estagiários e/ou parte do time.
Neste sentido, estudantes do curso de Arquitetura têm se organizado para inserir tais assuntos na grade curricular do curso, como um chamado urgente e concreto, institucionalizado. Me pego curiosa para ver o que surgirá disto e feliz em já ver acontecer belas práticas como os telhados verdes e jardins verticais da Ecogreen pelo Brasil, a bioconstrução da Escola Waldorf Rural – Paudalho, as bioconstruções da Tribo Indígena Xucuru – Pesqueira, a horta comunitária de Casa Amarela e o SAF do CCB – Recife.
É com muita esperança que trago algumas fotos destes belos exemplos aqui de Pernambuco. Vamos em frente. Abrindo caminhos.
Gratidão.
JARDIM VERTICAL DA ECOGREEN
HORTA NO TELHADO VERDE – COLÉGIO FAZER CRESCER – RECIFE
SALAS DE AULA DE BIOCONSTRUÇÃO – ESCOLA WALDORF RURAL – PAUDALHO
BIOCONSTRUÇÃO EM ANDAMENTO DO SALÃO PARA ASSEMBLÉIAS DO POVO INDÍGENA XUCURU – PESQUEIRA / PE (Abril 2017)
A HORTA URBANA COMUNITÁRIA DE CASA AMARELA – RECIFE/PE
O JARDIM DIDÁTICO AGROFLORESTAL OU SISTEMA AGROFLORESTAL (SAF) DO CBC – CENTRO DE BIOCIÊNCIAS – UFPE / RECIFE