Visões de uma trajetória em busca da Arquitetura e Paisagismo Sustentáveis – 18/04/2017

Desisti da graduação de Arquitetura e Urbanismo após uma conversa com a coordenadora do curso, em 2005. Lembro que o mundo estava vivendo guerras e grandes desafios e não se tocava no assunto na faculdade. Fui perguntar à coordenadora se iríamos contextualizar nossos trabalhos e projetos e lembro que sua resposta foi: “Não, querida, você só vai entrar em contato com isso nos últimos períodos, talvez quando estudar urbanismo.” Perguntei ainda sobre a questão da Sustentabilidade, que já era a minha área de interesse desde então, e lembro bem de sua resposta: “Sustentabilidade: essa palavra é moda. E moda passa.” Lembro de derramar algumas lágrimas antes de arrumar minhas coisas e sair da sala no meio da aula. Não consegui voltar.

Mudei de rumo e me formei em Ciências Biológicas Ambientais, onde era prioritária a contextualização socio-ambiental do Brasil e do Planeta. Tivemos a sorte de ter professores maravilhosos que abriram os nossos olhos e tocaram nossos corações, mas também encontramos nos próprios estudantes a vontade de encontrar soluções para os desafios que estávamos estudando.

Assim, os estudantes organizavam práticas de Sustentabilidade transformando o próprio espaço da Universidade. Buscamos juntos e encontramos a Bioconstrução*, a Permacultura* e a Agroecologia*, e em 2010, nós estudantes fundamos o Jardim Didático Agroflorestal ou Sistema Agroflorestal* (SAF) do CCB / UFPE. Na biologia, reencontrei a Arquitetura e o Paisagismo sob uma nova perspectiva. E isso fortaleceu em mim a idéia do quanto estas ferramentas sÃo importantes para construirmos um mundo que faça mais sentido. * Abordarei estes temas a seguir neste blog.

Por esta razão, em busca das ferramentas do design e planejamento, fui estudar um Curso Técnico em Design de Construção na Austrália, país conhecido por boas práticas sustentáveis e berço da Permacultura – um sistema de design e planejamento para a Sustentabilidade.  Pude conhecer a riqueza da legislação australiana acerca de tecnologias sustentáveis, porém no curso e no mercado de trabalho percebi que a Austrália também caminha a passos tímidos na direção da Arquitetura e Paisagismo Sustentáveis. Tanto os professores e estudantes quanto os profissionais da área prezam pelo design convencional – mais “fácil”. Senti falta da criatividade brasileira, porém reconheci a eficácia do controle e segurança australianos.

Fora do curso, conheci na Australia belas iniciativas sustentáveis, que renovaram a esperança e servem como boas referências em consciência ecológica. Ainda assim, a impressão que fiquei é a de que o Brasil e América Latina têm uma força maior na prática destes temas e um maior número de exemplos espalhados e concretos, com forte viés social implícito pela necessidade local.

Voltando ao Recife, tive a felicidade de assistir a uma apresentação de Monografia do Curso de Arquitetura e Urbanismo na UFPE sobre a Bioconstrução e ver o reflexo nos professores da bancada de avaliação: alguns ficaram inspirados e motivados e outros inquietos e resistentes, porém todos pareceram determinados a olhar e adentrar o assunto. Com alegria, senti que, 12 anos depois de minha desistência do curso, algo parece estar acontecendo.

Ao mesmo tempo, é triste perceber que a maioria dos escritórios de arquitetura e engenharia ainda se encontram distantes do tema da Sustentabilidade e não abordam estas questões em seus projetos e dia-a-dia. Um grande exemplo é a carência do uso de tecnologias voltadas à questão da água, ainda que estejamos claramente à beira de uma crise global neste assunto.

Venho concluindo que a junção dos conhecimento da Biologia com a Arquitetura e o Paisagismo seria imensamente proveitosa, para ambos os profissionais, os clientes, a humanidade e a natureza.

Deixo aqui um apelo para que os arquitetos e paisagistas usem bem as suas ferramentas de trabalho para o necessário trabalho de mudança do qual a sociedade tanto necessita. Também, que procurem conhecer os novos temas e tecnologias da Sustentabilidade e analisem a possibilidade de integrar profissionais da área ambiental como estagiários e/ou parte do time.

Neste sentido, estudantes do curso de Arquitetura têm se organizado para inserir tais assuntos  na grade curricular do curso, como um chamado urgente e concreto, institucionalizado. Me pego curiosa para ver o que surgirá disto e feliz em já ver acontecer belas práticas como os telhados verdes e jardins verticais da Ecogreen pelo Brasil, a bioconstrução da Escola Waldorf Rural – Paudalho, as bioconstruções da Tribo Indígena Xucuru – Pesqueira, a horta comunitária de Casa Amarela e o SAF do CCB – Recife.

É com muita esperança que trago algumas fotos destes belos exemplos aqui de Pernambuco. Vamos em frente. Abrindo caminhos.

Gratidão.

JARDIM VERTICAL DA ECOGREEN

 

Quando um mudo deixa de ser um muro qualquer. Projeto de Arquitetura: Sandra Moura Projeto de Paisagismo: Julio Anjos.

HORTA NO TELHADO VERDE – COLÉGIO FAZER CRESCER – RECIFE

 

Horta no Telhado Verde do Colégio Fazer Crescer. Paisagista: Luciano Lacerda.

SALAS DE AULA DE BIOCONSTRUÇÃO – ESCOLA WALDORF RURAL – PAUDALHO

Bioconstrução: Pedro Paes e Simon Soto. Foto: Pedro Paes

BIOCONSTRUÇÃO EM ANDAMENTO DO SALÃO PARA ASSEMBLÉIAS DO POVO INDÍGENA XUCURU – PESQUEIRA / PE (Abril 2017)

Bioconstrução do salão comunitário para assembléias do Povo Indígena Xucuru. Projeto comunitário com apoio do arquiteto Pedro Paes. Foto: Cacique Marcos Xucuru.

A HORTA URBANA COMUNITÁRIA DE CASA AMARELA – RECIFE/PE

A horta urbana de Casa Amarela – uma intervenção comunitária. Foto da autora.

O JARDIM DIDÁTICO AGROFLORESTAL OU SISTEMA AGROFLORESTAL (SAF) DO CBC – CENTRO DE BIOCIÊNCIAS – UFPE / RECIFE

O SAF do CCB – UFPE / Recife – uma idealização dos estudantes da UFPE e comunidade. Foto da autora.

 

Mariana Maciel

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